No atual conclave de 2025, a presença de cardeais brasileiros tem gerado expectativas, uma vez que o Brasil é um dos países com maior número de católicos no mundo. Entre os cardeais brasileiros com direito a voto, destaca-se Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Salvador, que tem uma relação próxima com o Papa Francisco e foi membro de um grupo responsável por auxiliá-lo na gestão da Igreja. A possibilidade de que um brasileiro ser escolhido relembra a vez em que um cardeal brasileiro foi eleito papa, mas recusou assumir o cargo.

O cardeal que recusou o papado

Em 1978, o conclave que visava escolher o sucessor do Papa Paulo VI chegou a um impasse até que o cardeal brasileiro Aloísio Lorscheider, arcebispo de Fortaleza, foi eleito como o novo pontífice. Lorscheider foi o primeiro cardeal brasileiro a obter os dois terços dos votos necessários para se tornar Papa. Contudo, ao ser consultado sobre aceitar o cargo, ele surpreendeu os cardeais e o mundo ao recusar a oferta, alegando sérios problemas de saúde. O cardeal brasileiro havia se submetido a uma cirurgia cardíaca recente e temia que sua condição não fosse compatível com as exigências do papado.

Essa decisão de não aceitar o papado foi motivada, principalmente, pelo temor de que, caso aceitasse, não conseguiria cumprir o papel de liderança da Igreja Católica de maneira plena. Lorscheider, que já tinha sofrido com problemas cardíacos, citou sua saúde fragilizada como motivo para sua recusa. Sua decisão foi tomada em um contexto delicado para a Igreja, que havia perdido João Paulo I, cujo papado durou apenas 33 dias devido a sua morte súbita, gerando especulações sobre sua morte precoce.

A decisão de Lorscheider abriu caminho para a eleição do cardeal polonês Karol Wojtyła, que se tornaria o Papa João Paulo II, um dos pontífices mais notáveis da história moderna, com um papado que duraria 26 anos. Mesmo com a eleição de Wojtyła, a recusa de Lorscheider ficou registrada como um marco na história do conclave.

Quem foi Aloísio Lorscheider?

Lorscheider foi nomeado cardeal pelo papa Paulo VI em maio de 1976, na igreja titular de S. Pedro em Montorio.

Ele nasceu em 8 de outubro de 1924 em Estrela, no Rio Grande do Sul. Segundo informações do Vaticano, seus pais eram imigrantes de ascendência alemã.

Aos 9 anos, ele ingressou no seminário de padres Franciscanos em Taquari, e posteriormente foi para Divinópolis para estudar filosofia e teologia.

Após ser ordenado sacerdote em 1948, ele lecionou latim, alemão e matemática no seminário de Taquari. Lorscheider também se especializou em teologia na Pontifícia Universidade Antonianum, em Roma, onde obteve o doutorado em 1952, de acordo com o Vaticano.

De volta ao Brasil, ele ensinou teologia no seminário franciscano de Divinópolis, em Minas Gerais, até 1958. Depois disso, Lorscheider voltou para Roma lecionar na Pontifícia Universidade Antonianum por 4 anos.

Em 1962, ele foi nomeado bispo de Santo Ângelo. Já em 1973 foi nomeado arcebispo de Fortaleza e em 1995 arcebispo de Aparecida.

Segundo o Vaticano, o cardeal Aloísio Lorscheider faleceu em 23 de dezembro de 2007.