O governo brasileiro formalizou, nesta segunda-feira (19), um pedido à China para que o embargo às exportações de carne de frango do Brasil seja limitado apenas ao município de Montenegro, no Rio Grande do Sul, onde foi identificado um foco isolado de gripe aviária. A solicitação foi encaminhada pela Embaixada do Brasil em Pequim à Administração Geral das Alfândegas da China (GACC), órgão responsável pela fiscalização do comércio internacional no país asiático.
A solicitação busca reverter a suspensão nacional das exportações e adotar um modelo regionalizado, como já fazem outros parceiros comerciais, entre eles o Japão. Segundo o Itamaraty, o Brasil adotou imediatamente todas as medidas sanitárias exigidas pelo protocolo bilateral com a China assim que o surto foi confirmado.
A gripe aviária foi detectada em uma propriedade rural de Montenegro, o que levou o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) a suspender, por precaução, a emissão de certificados sanitários para exportações de frango destinadas ao mercado chinês. Apesar do acordo prever a paralisação nacional, o governo argumenta que a resposta ao surto foi rápida e eficiente, e que os critérios de regionalização devem ser considerados.
Entre as medidas adotadas, estão a eliminação de 17 mil aves, destruição de 70 mil ovos, desinfecção das áreas afetadas e intensificação da vigilância em um raio de 10 km. A área também foi interditada, e todas as ações seguem os padrões internacionais estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH).
“Considerando as medidas técnicas robustas tomadas, o Brasil gostaria de explorar, respeitosamente, a possibilidade de abordagem regionalizada para este caso, conforme os princípios da WOAH e o protocolo bilateral vigente”, afirmou a embaixada em nota. O governo brasileiro solicitou à GACC que informe quais os documentos e etapas são necessários para análise da proposta.
A China é o maior destino das exportações brasileiras de carne de frango, tendo comprado 562 mil toneladas do produto em 2024 — o equivalente a 10,5% das exportações totais. Na sequência aparecem Emirados Árabes Unidos (455 mil toneladas), Japão (443 mil toneladas), Arábia Saudita (370 mil toneladas) e África do Sul (325 mil toneladas).
Além de comunicar a situação à China, o Brasil também notificou oficialmente a WOAH e outros parceiros comerciais, reforçando sua postura de transparência. O Mapa informou que medidas semelhantes de regionalização também devem ser pleiteadas junto à União Europeia, que adota protocolos semelhantes.
Outros países também reagiram ao surto no Rio Grande do Sul. Cuba, Bahrein e Reino Unido restringiram as compras apenas aos produtores gaúchos. Japão, por sua vez, adotou a suspensão apenas para o município de Montenegro. Já países como Cingapura, Filipinas, Jordânia, Hong Kong, Índia, Paraguai e Vietnã impuseram restrições em um raio de 10 km a partir do ponto do surto.
Até o momento, México, Coreia do Sul, Chile, Canadá, Uruguai, Malásia e Argentina solicitaram por conta própria a suspensão das compras. Já o Brasil se antecipou e estendeu voluntariamente a interrupção temporária das exportações para outros mercados, como África do Sul, Peru, Rússia, República Dominicana, Bolívia, Marrocos, Paquistão e Sri Lanka.
Segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o Brasil produziu 14,97 milhões de toneladas de carne de frango em 2024. Desse total, 5,29 milhões foram exportadas, gerando uma receita de US$ 9,93 bilhões — alta de 1,34% em valor e 2,96% em volume em relação a 2023. Em média, de cada 100 frangos produzidos, 35 foram destinados ao mercado internacional.
Com o episódio em Montenegro sob controle, o Brasil espera que a China e demais parceiros comerciais adotem uma resposta equilibrada, alinhada aos padrões sanitários internacionais e às evidências técnicas.
*Com informações da “Folha de São Paulo”
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