Abordar os casos de violência letal — levando em conta uma realidade pré e pós-pandêmica — é primordial para compreender o impacto de fatores como isolamento social, a retração econômica e a reorganização urbana.
Considerando tal realidade, Pedro Freitas, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDEM) da UFRN, e Járvis Campos, docente do PPGDEM, produziram um artigo, veja aqui, que visa compreender esse fenômeno no município de Natal entre 2019 e 2020.
A pesquisa, publicada na revista Urbe, buscou especialmente identificar alterações no padrão de ocorrência da violência durante a pandemia da covid-19. O estudo se concentrou nos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs), buscando entender como esses eventos se distribuíram territorialmente em um cenário marcado pelo agravamento das desigualdades sociais e pelo processo de segregação socioespacial presente na cidade.
Essa dinâmica de segregação socioespacial se refere à distribuição desigual da população nas cidades, onde aqueles mais pobres costumam morar em locais distantes de pontos comerciais, serviços e amenidades naturais (como parques e áreas verdes), algo que ocasiona problemas de convivência entre grupos de diferentes condições socioeconômicas.
No contexto brasileiro, o contraste mais conhecido seria a oposição de centro e periferia, uma vez que somente uma dessas classes consegue acessar facilmente tais recursos.
Os resultados indicaram que, embora tenha ocorrido uma redução no número absoluto de CVLIs entre 2019 e 2020, o padrão espacial das ocorrências permaneceu praticamente inalterado.
Mesmo com as transformações impostas pela pandemia da covid-19, a concentração da violência letal continuou refletindo sobre as mesmas áreas vulneráveis do município, especialmente aquelas marcadas por dinâmicas de segregação socioespacial.
Além disso, a análise expôs que os CVLIs tendem a ocorrer em regiões mais distantes dos equipamentos urbanos (saúde, educação, segurança e lazer), revelando uma persistente fragilidade da presença do Estado nesses territórios.
Para chegar nessas conclusões, os pesquisadores adotaram uma abordagem metodológica baseada na integração entre geoprocessamento, análise espacial e estatística descritiva.
Para Pedro, ao evidenciar a distância entre os locais de homicídios e os equipamentos urbanos, o estudo reforça a necessidade de políticas públicas integradas e territorializadas. “O trabalho fornece ferramentas e metodologias para gestores e planejadores urbanos avaliarem criticamente a alocação de recursos e a cobertura dos serviços públicos em áreas periféricas, com potencial de promover intervenções mais coerentes”, completa.
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