O Brasil e o mundo perdem um dos maiores nomes da fotografia contemporânea. Sebastião Salgado, reconhecido internacionalmente por sua obra humanista e seu compromisso com o meio ambiente, faleceu aos 81 anos. A informação foi confirmada nesta sexta-feira (23) pelo Instituto Terra, organização ambiental fundada por ele e sua esposa, a curadora Lélia Deluiz Wanick Salgado.
Sebastião enfrentava um distúrbio sanguíneo decorrente de malária, contraída durante uma viagem à Indonésia. A doença não foi tratada adequadamente e, em 2024, o fotógrafo anunciou sua aposentadoria dos trabalhos de campo. “Meu corpo sente os impactos de anos em ambientes hostis e desafiadores”, declarou na ocasião.
Nascido em Aimorés, Minas Gerais, em 1944, Sebastião Ribeiro Salgado Júnior formou-se em economia antes de se descobrir fotógrafo em 1973, um encontro tardio com a vocação que mudaria sua vida e deixaria uma marca indelével na história da fotografia. Com sua câmera, percorreu mais de 120 países, registrando as faces da desigualdade, do trabalho humano, das migrações e da natureza com sensibilidade ímpar, sempre em preto e branco.
Entre suas obras mais conhecidas estão os registros da Serra Pelada, na década de 1980, reunidos no livro Trabalhadores, e o aclamado ensaio Êxodos, sobre povos migrantes e refugiados ao redor do planeta. Sua produção visual sempre buscou ir além da imagem: documentar com profundidade as contradições sociais, os desafios ambientais e, sobretudo, a dignidade humana.
No fim da década de 1990, Salgado voltou-se com mais intensidade à causa ambiental. Em 1998, fundou com Lélia o Instituto Terra, voltado à recuperação da Mata Atlântica no Vale do Rio Doce, sua terra natal. O projeto se tornou referência mundial em restauração ecológica, mostrando que também é possível regenerar o planeta com o mesmo olhar atento que sempre guiou sua fotografia.
“Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade”, destacou o Instituto Terra em nota oficial.
Ao ser homenageado em Londres por sua carreira, Sebastião sintetizou sua missão com a frase: “A fotografia é o espelho da sociedade.” Um espelho que, através de suas lentes, revelou não só o sofrimento e a beleza do mundo, mas também sua capacidade de transformação.
Sebastião Salgado deixa um legado incontornável na fotografia, na arte e na luta pela dignidade humana e pela proteção do planeta. Sua obra continua a nos lembrar de onde viemos, quem somos e o que ainda podemos ser.
Deixe um comentário