Peço licença para dirigir-lhe algumas palavras sobre as eleições do próximo dia 06 de outubro de 2024.
O sistema político brasileiro estabelece que a cada dois anos os(as) brasileiros(as) expressem suas preferências político-eleitorais, separando as eleições nacionais (presidência da República, Senado, Câmara dos Deputados) e estaduais (Governos Estaduais e Assembleias Legislativas) e as eleições municipais (Prefeituras e Câmaras Municipais).
Os estudos e as pesquisas em Sociologia e Ciência Política no Brasil pós-redemocratização têm conferido mais atenção e, consequentemente, importância às eleições nacionais e estaduais. Há investigações sobre as eleições municipais, porém em números bem menores.
A meu juízo, todavia, o problema maior não está na evidente secundarização do conhecimento sobre as eleições municipais e a importância dos seus resultados sobre o sistema político nacional.
O que preocupa é a insuficiência das análises e do conhecimento produzido sobre as relações existentes entre as eleições nacionais e estaduais e as eleições municipais, constituindo lacunas importantes sobre como esses diferentes processos eleitorais determinam a estruturação do sistema político brasileiro e suas tendências de desenvolvimento histórico.
Isso se aplica, sobretudo, às preocupações acadêmicas e, curiosamente, à falta de entendimento das forças políticas mais democráticas, progressistas e dos partidos de esquerda sobre o caráter estratégico das eleições municipais para a configuração da correlação entre as forças políticas e a disputa de hegemonia entre as diversas visões de mundo no sistema político brasileiro.
Por outro lado, as forças políticas conservadoras e a extrema-direita demonstram, principalmente nas quatro últimas eleições, uma aguçada percepção da importância das eleições municipais na disputa nacional pela direção moral e intelectual de sua visão de mundo, que legitima o exercício do poder e do governo no Brasil.
Esse é o momento em que os(as) futuros(as) postulantes aos cargos de deputado estadual, deputado federal e senador mobilizam seus financiadores públicos e privados, muitas vezes à margem da lei, para dispor de muito dinheiro para prover as necessidades de financiamento das campanhas de prefeitos(as) e vereadores nas chamadas “bases” eleitorais. Também em política, em especial quando se trata de eleições no Brasil, “não se dá ponto sem nó”.
As eleições municipais são o palco para a constituição de redes de apoio político-eleitoral mútuo firmadas entre os(as) postulantes, em 2026, a deputado estadual, a deputado federal e a senador e os(as) prefeitos(as) e vereadores(as) eleitos ou, mesmo, aqueles candidatos que obtiveram significativa votação nos diversos municípios.
Não tenhamos ilusão. No Brasil, a democracia coexiste de forma subordinada ao poder do dinheiro. As práticas políticas dominantes caracterizam na verdade a existência de uma plutocracia. Os donos do dinheiro e da propriedade são os donos do poder.
Em linguagem direta, as lideranças políticas do campo conservador, de direita e de extrema-direita literalmente “compram” seus mandatos. Nas eleições municipais, acontece o pagamento da primeira “parcela” dessa relação mercantil de compra de mandatos. Em 2026, sobretudo nas eleições parlamentares para deputados estaduais e deputados federais, verificar-se-á o pagamento da segunda “parcela”, quando essa relação mercantil se completa.
A política é reduzida ao espaço da compra e venda de mandatos e votos. Não é preciso muito esforço intelectual para imaginar as consequências práticas disso tudo. A política se degrada e aparece como o espaço social do suborno, da corrupção e do enriquecimento ilícito de muitos políticos profissionais, de cima a baixo do nosso sistema político.
Não é por acaso que, hoje, há um sentimento amplamente disseminado de repulsa à política e aos políticos em geral. A crise e a deslegitimação das instituições políticas é o resultado mais visível disso. O paradoxo criado é que esse sentimento atinge em cheio a credibilidade das forças políticas que poderiam liderar um processo de transformação estrutural da sociedade brasileira e, pasmem, a direita e a extrema-direita podem aparecer ilusoriamente para muitos como portadores de propostas contra o “sistema”.
A disseminação da antipolítica é a antessala do fim da política e da democracia como esfera plural e republicana de organização e explicitação dos diferentes e contraditórios interesses sociais e projetos de país que são constitutivos da sociedade brasileira. A história nos ensina que estamos próximos da implantação da tirania e da barbárie.
Esse, em termos muito resumidos e esquemáticos, é o resultado dos estudos e das pesquisas realizados sobre os processos eleitorais, nos quais procuramos desvendar as conexões entre as eleições municipais e as eleições estaduais e nacionais que caracterizam o sistema político brasileiro.
Pelas razões acima expostas, precisamos mudar radicalmente o nosso entendimento e comportamento políticos e tratarmos as eleições municipais como estratégicas para a definição da correlação de forças entre os muitos partidos e facções que constituem o sistema político no Brasil. O futuro se decide hoje!
Em outras palavras, o nosso voto agora decide o futuro da democracia e dos contornos dos direitos e da cidadania que queremos construir na sociedade brasileira. A hegemonia de uma determinada visão de mundo define o projeto de país e de sociedade que teremos.
Por isso, voto e peço o seu voto para elegermos prefeitos(as) comprometidos(as) com a defesa e a ampliação da democracia e com a luta para derrotarmos o neofascismo que é uma ameaça em várias partes do mundo, especialmente no Brasil.
E, também muito importante, elegermos e ampliarmos as bancadas de vereadores(as) que adotam uma perspectiva democrática e popular e priorizam a luta, a organização e a representação das classes populares e dos movimentos sociais nas pautas das Câmaras Municipais.
É a partir da construção de um projeto de cidade, que rompa de vez com a reprodução das desigualdades estruturais entre ricos e pobres e que contemple as utopias de uma vida social boa e digna para todas as pessoas de todas as idades, gêneros, raças e classe social. Esse é o caminho para recuperarmos a capacidade de sonhar com um mundo que mereça ser humanamente vivido.
Precisamos, coletivamente, construir uma sociedade que possa favorecer a nossa realização como seres humanos singulares e plurais, capazes de exercer e usufruir da liberdade e da autonomia para tornar realidade uma vida social na qual todas as pessoas tenham os mesmos direitos à uma cidadania ampliada e em constante ampliação, baseada na multiplicidade de necessidades e desejos e na indispensável preservação da natureza numa relação de equilíbrio e respeito ao nosso meio-ambiente.
É para isso que voto e peço o seu voto para Natália 13 para prefeita e João Oliveira 13013 para vereador em Natal nessas eleições de 2024.
Parabéns, pelo texto lúcido, professor João Evangelista.
Civilização ou Barbarie, eis a questão):
Em 06/10/2024 para Natal voltar a sorrir de novo, sem medo de ser feliz!
Digito:
13013 – Joao Oliveira – Vereador PT
13 Natália -Prefeita PT