É interessante perceber como as pessoas se conectam umas às outras por meio de alguns rituais que ninguém sabe lá muito bem quando nascem e de onde vêm, mas que moldam os seus relacionamentos de maneira fundante. Isso acontece na relação entre casais, familiares, grupos esportivos e em todo um catatau de vínculos que o ser humano é capaz de manter.
O curioso é que essa interconexão pode acontecer tanto em torno de algo bom quanto de coisas bastante disruptivas. Se algumas famílias se unem para confraternizar nos almoços de domingo, outras se entrelaçam através de brigas que acontecem quase sempre quando se encontram. Existem casais que se ligam a partir da admiração mútua, e outros que apenas conseguem encontrar sintonia diante de um constante estado de tensão burilado na tríade ciúme – briga – reconciliação.
Até em grupos musicais parece existir algo do gênero. Kim Gordon, ex-vocalista do Sonic Youth, já andou falando por aí de como os membros da banda pareciam estar unidos em torno de uma espécie de psicose grupal. Em outras palavras, eles se encontravam vinculados porque compartilhavam das mesmas loucuras, e essa força causada pela união na insanidade fazia tudo funcionar.
A neurociência também tem se debruçado sobre fenômenos parecidos. Miguel Nicolelis realizou alguns estudos mostrando que grupos de pessoas, ao agirem coletivamente entorno dos mesmos interesses, ativaram simultaneamente as mesmas zonas cerebrais. Em um de seus experimentos com o time do Palmeiras, ao mapearem os cérebros dos jogadores, constatou-se que eles acionavam idênticas áreas mentais quando ouviam as palavras do técnico – algo que simplesmente não acontecia quando a preleção saia da boca de outra pessoa.
Claro, tudo isso não é lá uma grandíssima novidade, já que parece ecoar a teoria do inconsciente coletivo de Jung, segundo a qual nossas reações e percepções são moldadas por padrões ancestrais, os chamados arquétipos.
É intrigante notar, de todo modo, como o assunto pode servir de lente para observarmos o cenário político atual, em que ideias extremistas têm conquistado um número crescente de adeptos por meio das redes sociais. Memes, fake news e narrativas simplificadas têm funcionado como cimento de uma liga emocional entre pessoas que se reconhecem, não pela razão, mas pelo ódio compartilhado.
No final das contas, talvez sejamos menos racionais do que imaginamos e mais movidos por correntes invisíveis que nos arrastam uns para os outros, pelo amor ou pelo ódio.






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