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Vivemos em uma sociedade onde, sobretudo na política, é comum assistirmos a um triste espetáculo: o esquecimento.
Esquecem-se daqueles que estavam na linha de frente quando o sonho ainda era apenas uma ideia solta, quando a luta parecia inglória e o futuro, incerto. Fazem pactos com quem não entrou no campo de batalha, dando espaço aos que estavam lutando no time adversário.
Querer aliados que outrora eram inimigos, depois da vitória, sem antes dar espaço e vez aos que lutaram, mostra que a sede por poder é maior do que o conceito de justiça.
Carrego comigo uma frase que escrevi num dia em que olhei para trás e lembrei de todos os que comigo lutaram:
“Só levo para o pódio aqueles que comigo rastejaram no chão.”
Essa frase resume muito do que penso. Não é justo — nem ético — celebrar a vitória ao lado de quem nunca sujou as mãos, enquanto se deixa de lado aqueles que, conosco, deram o peito à guerra e carregaram a bandeira dos nossos ideais.
Infelizmente, especialmente na política local — onde moro, onde estou inserida —, vejo acordos serem feitos com antigos adversários, enquanto os verdadeiros companheiros de luta são esquecidos. São silenciados. São afastados do centro das decisões.
Muitos desses companheiros não querem cargos nem holofotes. Querem apenas voz. Querem ser ouvidos. Querem respeito.
É essencial aprender a valorizar quem esteve na origem da caminhada, quem lutou conosco no tempo do anonimato.
Não é apenas um ato de justiça: é uma demonstração de caráter.
E é exatamente isso que tem faltado a muitos que fazem a política.
Por onde ando e pelo que vejo à minha volta, reforço esta certeza:
Que nunca nos falte memória. Que jamais nos falte gratidão.
Mas que também tenhamos a humildade de reconhecer a importância daqueles que deixamos de lado no decorrer da nossa história.
Acredito firmemente que as pessoas são fundamentais em tudo aquilo que somos.
Aqueles que esquecem os que com eles lutaram são dignos de pena.
Porque uma hora a roda gira, uma hora o mundo dá uma volta — e quem hoje está no pódio pode muito bem voltar a rastejar no chão.
Essa é uma verdade absoluta.
Existe uma lei que nunca falha: a lei do retorno.
E, quando damos ao outro o descaso, o retorno é quase sempre muito semelhante.
Nildinha Freitas