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Nos últimos anos, tornou-se cada vez mais comum ouvir jovens afirmando que trabalhar com carteira assinada é “coisa de fracassado” ou que “CLT é perda de tempo”. Paralelamente, cresce o número de adolescentes que desejam ser influenciadores digitais ou jogadores profissionais como forma de alcançar fama e riqueza rapidamente. Esse fenômeno, que poderia parecer apenas uma tendência inofensiva, revela uma crise mais profunda: a desinformação juvenil em relação ao mundo do trabalho e à construção da vida adulta.
Criada em 1943 por Getúlio Vargas, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) garantiu direitos fundamentais aos trabalhadores brasileiros — como férias remuneradas, 13º salário, licença-maternidade e aposentadoria. No entanto, essas conquistas históricas têm sido ignoradas por parte da nova geração, que muitas vezes sequer entende o que significa esse regime. O desprezo pela CLT não se dá por experiência própria, mas por discursos distorcidos disseminados nas redes sociais e por influenciadores que pregam o sucesso instantâneo e sem esforço.
O fascínio pelo “dinheiro fácil” ganhou força com a popularização de plataformas como TikTok, YouTube e Instagram, onde conteúdos de ostentação, rotinas irreais e fórmulas mágicas de enriquecimento atraem milhões de visualizações. Jovens passam horas consumindo esse tipo de material, muitas vezes sem qualquer orientação dos pais ou da escola. Isso tem impactos diretos sobre seus valores, aspirações e até comportamento. Relatos de alunos que sonham ser “ricos do TikTok” ou “jogadores de Free Fire” em vez de buscarem formação profissional são cada vez mais frequentes nas salas de aula.
É importante destacar que a vida de influenciadores e gamers de sucesso é exceção, não regra. É um mercado competitivo, instável e altamente exigente. Muitos adolescentes que abandonam os estudos para seguir esse caminho acabam frustrados, emocionalmente abalados e sem qualificação para o mercado de trabalho. Enquanto isso, desprezam profissões legítimas que exigem esforço, disciplina e estudo — pilares essenciais para qualquer trajetória sólida.
Essa realidade é agravada pela ausência de acompanhamento familiar. Muitos pais entregam celulares e tablets a crianças de 4 ou 5 anos, sem monitoramento. Em casos mais extremos, como o de uma menina de 12 anos que começou a furtar dinheiro para “viralizar” no Instagram, vemos o impacto direto da influência digital mal orientada: prejuízo escolar, conflitos familiares e danos emocionais.
Diante disso, é urgente resgatar o valor do diálogo dentro de casa e nas escolas. Educar não é apenas oferecer estrutura material, mas também preparar os jovens para entender o que é trabalho, responsabilidade e independência financeira. Trabalhar com carteira assinada não é um fracasso — é um passo legítimo e digno na construção de uma carreira. Muitos profissionais bem-sucedidos começaram como estagiários, auxiliares ou vendedores e cresceram por mérito próprio.
Não se trata de demonizar o universo digital. Ele, de fato, oferece oportunidades e pode ser uma ferramenta poderosa de aprendizado e crescimento. O problema está em consumi-lo sem filtro, sem senso crítico e sem orientação. Quando isso acontece, os riscos se tornam maiores que os benefícios.
Por isso, pais, educadores e a sociedade como um todo têm o dever de orientar, informar e mostrar aos jovens que a verdadeira liberdade vem do conhecimento, do trabalho honesto e do amadurecimento — não de curtidas passageiras e fama ilusória. O futuro não se constrói com atalhos, mas com escolhas conscientes.
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