A Elizabeth de Butterfly

“Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.” – Friedrich Nietsche


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A felicidade e a tragédia podem se instalar em nossas vidas do nada, por um acaso. Alguns chamam de destino, outros vão dizer que se instalaram porque assim eles planejaram. Bem, pode não ser assim, mas gosto de acreditar que é.

Um dia perguntei a uma amiga por que seu nome era Beth de Butterfly? Ainda lembro dela abrindo seu sorriso iluminado e respondendo que era porque Borboletas voam e são multicoloridas. Juro que não entendi a resposta, porém se faz sentido para ela, é o que vale.

Enquanto escrevo, parece que estou vendo sua pele branca, de menina de classe média alta, muito bem criada, sem uma única marquinha em toda ela, parecendo um pêssego recém colhido. Filha única, de uma casual de juízes do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, tratada a pão de ló, sem jamais, durante a infância ou juventude, ter passado por qualquer dificuldade. Quando penso em definir a personalidade de Butterfly, a primeira coisa que me vem à cabeça é que ela é uma típica representante do modelo que a sociedade judaica-cristã-javélica-pós-exílio-na-Babilônia apregoa, pois vive nos padrões, presa, sabe-se lá por quê, para quê.

Butterfly graduou-se em Direito e passou logo de cara na prova da OAB, porém nunca exerceu a profissão, gerando desgosto aos seus pais. Hoje, aos 28 anos, vive de restaurar obras sacras. Os únicos excessos que sei que comete, ou já comenteu são: às sextas-feiras, juntamente com as amigas Natasha e Sara, tomarem três cervejas no Beco da Lama e chegarem em casa depois das 22 horas.

No entrevero das coisas confusas minha amiga, peço-lhe perdão por revelar aqui algo tão íntimo e tão seu, um segredo confiado a mim, portanto deveria ser só nosso, mas agora tornarei público.

Eu que conheço a verdade, porque já li João Andrade, Adélia Prado, Adélia Costo, conheço na profundidade os escritos e manuscritos de Ozany Gomes, e com esses autores descobri a liberdade, sei que não existe pecado abaixo da linha do equador.

E sobre sonho bom e realidade, vou introduzir outro personagem nessa trama, o Demunnus.

Demunnus, em seus 19 anos de vida, habitante do mundo equidistante do do de Elizabeth de Butterfly. O moço, um pescador de profissão, cresceu no berço das necessidades básicas. Sem pai, mãe e sobrenome, faz parte da tripulação do Sodoma I, barco pesqueiro que a cada 15 dias parte da Tavares de Lira, rumo as proximidades do Atol das Rocas, onde realiza a capitura de alguns peixes, que são comercializados em nossa cidade. Segundo Elizabeth, ele tem a cor da noite, é possuidor de um sorriso capaz de iluminar uma cidade de 751 mil habitantes e o corpo tem uma beleza física impossível de descrever.

Tudo se encaminhava para mais uma sexta-feira comum na cidade do Natal, mas comum é muitas vezes questão de ponto de vista, nesta noite iria ocorrer no Beco da Lama, um mega show com as apresentações de Carlos Zens e Pedinho Mendes, transformando mais uma sexta em algo surreal. Mal o dia nasceu no horizonte da cidade, Natasha e Sara já se telefonavam para combinar o encontro, pois não poderiam perder essas apresentações por nada. Acertaram que dessa vez iriam ficar mais tempo para curtir o que o Beco tem para oferecer.

Lá do Olimpo, a Deusa Verdand aprontava para que a sexta ganhace um siginificado mágico para todo o sempre, pois o destino colocava em movimento um plano para um amor nascer.

Em outra parte da cidade, Demunnus também se preparava para ir ao Beco da Lama, porque um cliente seu, o Pedro Abche, que sempre lhe comprava peixes, tinha lhe falado sobre o show, e ele gostou da ideia, já que na madrugada da sexta para o sábado iria partir no Sodoma I, na Tavares de Lira, e passar 15 dias no mar.

O dia passou rápido, sem muitas intenções, como uma piscadela de olhos já era noite e o Beco da Lama estava com tanta gente que nem formiga cabia mais. As amigas estavam lá com suas cervejas e vestidos de contos de fadas. Demmus já estava lá também, vestindo um jens surrado, tênis maneiro e carreando na cintura o seu brinquedo de furar moletom. O moço só andava maquinado, devido alguns inimigos que fez ao londo da curta vida.

Carlos Zens cantava “A Flor Xanana”, quando o esbarrão entre Butterfly e Demunnus aconteceu, foi um choque que mudou a percepção da realida de Butterfly, levando-a para outro universo, muito mais lúdico e delicado, onde outra flor, que não é a Xanana, seria deflorada com vigor e carinho. Seus corpos se comunicaram, não houve palavra alguma, mas o desejo de ser um para o outro surgiu. Demunnus tomou a iniciativa e a levou para outro lugar e Butterfly só foi, sem nem pensar se deveria ir ou não. Depois, em um lugar escuro e longe da multidão, mãos bobas passeavam pelos corpos nada bobos. Beijos fizeram seu batom sumir. Tudo durou o tempo que teve que durar. Logo em seguida o rapaz falou que tinha que ir, pois estava na hora do barco zarpar do cais, mas voltaria em 15 dias e queria reencontrá-la. Despediram-se e ela voltou correndo para as amigas, lembrando da loucura de ter ficado com aquele cara que carregava uma arma na cintura, mas que seus olhos haviam aberto todos os portão da sua alma. Pedro Mendes cantou Linda Baby, e o show e os sonhos terminam.

A partir dali, acompanho o drama da minha amiga Elizabeth de Butterfly nos últimos sete meses. A cada 15 dias, ela vai ao Beco da Lama, agora sem suas amigas, apenas comigo, seu amigo confidente.

Infelizmente, o reencontro jamais aconteceu, pois alguns dias depois daquela sexta-feira mágica, li no jornal “O Potengi” que o barco Sodoma I sumiu, sem deixar pistas, em algum lugar entre Natal e o Atol das Rocas. Nem barco, nem tripulação foram encontrados.

Em meio aquela situação, sugeri que a menina que crescia no ventre da minha amiga receba o nome de Lilith de Butterfly. Por quê? Porque tudo que é belo e livre, voa, como o amor.

Sei que não fui justo com minha amiga ao escrever todas essas coisas, tornando sua história pública, só necessitei falar de beleza e de tragédia. Espero que um dia me perdoe.

Enquanto escrevo, não sai da minha cabeça Fafá de Belém cantando: “Foi assim, Como um resto de sol no mar, Como a brisa da preamar, Nós chegamos ao fim…”





O Potengi

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A Elizabeth de Butterfly

A felicidade e a tragédia podem se instalar em nossas vidas do nada, por um acaso. Alguns chamam de destino, outros vão dizer que se instalaram porque assim eles planejaram. Bem, pode não ser assim, mas gosto de acreditar que é.

Um dia perguntei a uma amiga por que seu nome era Beth de Butterfly? Ainda lembro dela abrindo seu sorriso iluminado e respondendo que era porque Borboletas voam e são multicoloridas. Juro que não entendi a resposta, porém se faz sentido para ela, é o que vale.

Enquanto escrevo, parece que estou vendo sua pele branca, de menina de classe média alta, muito bem criada, sem uma única marquinha em toda ela, parecendo um pêssego recém colhido. Filha única, de uma casual de juízes do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, tratada a pão de ló, sem jamais, durante a infância ou juventude, ter passado por qualquer dificuldade. Quando penso em definir a personalidade de Butterfly, a primeira coisa que me vem à cabeça é que ela é uma típica representante do modelo que a sociedade judaica-cristã-javélica-pós-exílio-na-Babilônia apregoa, pois vive nos padrões, presa, sabe-se lá por quê, para quê.

Butterfly graduou-se em Direito e passou logo de cara na prova da OAB, porém nunca exerceu a profissão, gerando desgosto aos seus pais. Hoje, aos 28 anos, vive de restaurar obras sacras. Os únicos excessos que sei que comete, ou já comenteu são: às sextas-feiras, juntamente com as amigas Natasha e Sara, tomarem três cervejas no Beco da Lama e chegarem em casa depois das 22 horas.

No entrevero das coisas confusas minha amiga, peço-lhe perdão por revelar aqui algo tão íntimo e tão seu, um segredo confiado a mim, portanto deveria ser só nosso, mas agora tornarei público.

Eu que conheço a verdade, porque já li João Andrade, Adélia Prado, Adélia Costo, conheço na profundidade os escritos e manuscritos de Ozany Gomes, e com esses autores descobri a liberdade, sei que não existe pecado abaixo da linha do equador.

E sobre sonho bom e realidade, vou introduzir outro personagem nessa trama, o Demunnus.

Demunnus, em seus 19 anos de vida, habitante do mundo equidistante do do de Elizabeth de Butterfly. O moço, um pescador de profissão, cresceu no berço das necessidades básicas. Sem pai, mãe e sobrenome, faz parte da tripulação do Sodoma I, barco pesqueiro que a cada 15 dias parte da Tavares de Lira, rumo as proximidades do Atol das Rocas, onde realiza a capitura de alguns peixes, que são comercializados em nossa cidade. Segundo Elizabeth, ele tem a cor da noite, é possuidor de um sorriso capaz de iluminar uma cidade de 751 mil habitantes e o corpo tem uma beleza física impossível de descrever.

Tudo se encaminhava para mais uma sexta-feira comum na cidade do Natal, mas comum é muitas vezes questão de ponto de vista, nesta noite iria ocorrer no Beco da Lama, um mega show com as apresentações de Carlos Zens e Pedinho Mendes, transformando mais uma sexta em algo surreal. Mal o dia nasceu no horizonte da cidade, Natasha e Sara já se telefonavam para combinar o encontro, pois não poderiam perder essas apresentações por nada. Acertaram que dessa vez iriam ficar mais tempo para curtir o que o Beco tem para oferecer.

Lá do Olimpo, a Deusa Verdand aprontava para que a sexta ganhace um siginificado mágico para todo o sempre, pois o destino colocava em movimento um plano para um amor nascer.

Em outra parte da cidade, Demunnus também se preparava para ir ao Beco da Lama, porque um cliente seu, o Pedro Abche, que sempre lhe comprava peixes, tinha lhe falado sobre o show, e ele gostou da ideia, já que na madrugada da sexta para o sábado iria partir no Sodoma I, na Tavares de Lira, e passar 15 dias no mar.

O dia passou rápido, sem muitas intenções, como uma piscadela de olhos já era noite e o Beco da Lama estava com tanta gente que nem formiga cabia mais. As amigas estavam lá com suas cervejas e vestidos de contos de fadas. Demmus já estava lá também, vestindo um jens surrado, tênis maneiro e carreando na cintura o seu brinquedo de furar moletom. O moço só andava maquinado, devido alguns inimigos que fez ao londo da curta vida.

Carlos Zens cantava “A Flor Xanana”, quando o esbarrão entre Butterfly e Demunnus aconteceu, foi um choque que mudou a percepção da realida de Butterfly, levando-a para outro universo, muito mais lúdico e delicado, onde outra flor, que não é a Xanana, seria deflorada com vigor e carinho. Seus corpos se comunicaram, não houve palavra alguma, mas o desejo de ser um para o outro surgiu. Demunnus tomou a iniciativa e a levou para outro lugar e Butterfly só foi, sem nem pensar se deveria ir ou não. Depois, em um lugar escuro e longe da multidão, mãos bobas passeavam pelos corpos nada bobos. Beijos fizeram seu batom sumir. Tudo durou o tempo que teve que durar. Logo em seguida o rapaz falou que tinha que ir, pois estava na hora do barco zarpar do cais, mas voltaria em 15 dias e queria reencontrá-la. Despediram-se e ela voltou correndo para as amigas, lembrando da loucura de ter ficado com aquele cara que carregava uma arma na cintura, mas que seus olhos haviam aberto todos os portão da sua alma. Pedro Mendes cantou Linda Baby, e o show e os sonhos terminam.

A partir dali, acompanho o drama da minha amiga Elizabeth de Butterfly nos últimos sete meses. A cada 15 dias, ela vai ao Beco da Lama, agora sem suas amigas, apenas comigo, seu amigo confidente.

Infelizmente, o reencontro jamais aconteceu, pois alguns dias depois daquela sexta-feira mágica, li no jornal “O Potengi” que o barco Sodoma I sumiu, sem deixar pistas, em algum lugar entre Natal e o Atol das Rocas. Nem barco, nem tripulação foram encontrados.

Em meio aquela situação, sugeri que a menina que crescia no ventre da minha amiga receba o nome de Lilith de Butterfly. Por quê? Porque tudo que é belo e livre, voa, como o amor.

Sei que não fui justo com minha amiga ao escrever todas essas coisas, tornando sua história pública, só necessitei falar de beleza e de tragédia. Espero que um dia me perdoe.

Enquanto escrevo, não sai da minha cabeça Fafá de Belém cantando: “Foi assim, Como um resto de sol no mar, Como a brisa da preamar, Nós chegamos ao fim…”



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