Um dos debates mais polêmicos sobre tributação de grandes fortunas gira em torno de um argumento recorrente: o de que não se pode taxar bilionários por suas ações, já que se tratam de “ganhos não realizados”. Em outras palavras, o valor do patrimônio deles estaria apenas “no papel”, e não em dinheiro disponível. O tema voltou à tona após a viralização de um vídeo de Trevor Noah no programa de TV dos EUA The Daily Show.
A lógica é simples — e conveniente. Um bilionário com R$ 300 bilhões em ações não teria “dinheiro em caixa”, e portanto não poderia ser tributado sobre algo que ainda não se concretizou em uma venda. Afinal, as ações podem cair de valor a qualquer momento.
Mas esse argumento se mostra frágil quando se observa como o sistema realmente funciona para os ultrarricos. Quando Elon Musk decidiu comprar o Twitter, ele afirmou não querer vender suas ações da Tesla. A solução? Oferecê-las como garantia para obter empréstimos bilionários junto a bancos e fundos de investimento.
Ou seja: embora oficialmente não possuam o dinheiro, esses bilionários têm acesso a ele com facilidade, graças ao valor potencial de seus ativos. Suas ações, que não podem ser tributadas por “não representarem renda real”, servem perfeitamente como garantia para movimentar cifras gigantescas. Isso mostra como Musk comprou o Twitter sem ter o dinheiro em si, mas com base no fato de que ele poderia ter, se quisesse — o que é uma das ironias mais reveladoras do capitalismo financeiro contemporâneo.
O paradoxo, portanto, é que na hora de pagar impostos, o dinheiro “não existe”; mas na hora de comprar empresas, financiar projetos ou ampliar o próprio império econômico, ele magicamente aparece. É um jogo sofisticado — e desigual — que apenas os muito ricos podem jogar.






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