O estado do Paraná viveu, nos últimos dias, um dos episódios climáticos mais severos de sua história recente. O Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) confirmou que três tornados atingiram a região central do estado na última sexta-feira (7), com ventos que chegaram a impressionantes 330 km/h. As cidades de Rio Bonito do Iguaçu, Guarapuava e Turvo foram as mais afetadas.
O município de Rio Bonito do Iguaçu, com cerca de 14 mil habitantes, foi praticamente arrasado — 90% dos imóveis foram destruídos. O tornado, classificado como F3 na escala Fujita, foi formado dentro de uma supercélula, o tipo mais severo de tempestade. Em Guarapuava e Turvo, os fenômenos foram classificados como F2, com ventos entre 200 e 250 km/h.
O governo do estado confirmou seis mortes — cinco em Rio Bonito e uma em Guarapuava — e ao menos 750 feridos, muitos deles necessitando de atendimento hospitalar. O subcomandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Jonas Emmanuel Benghi Pinto, descreveu o cenário como “de guerra”. Casas foram lançadas a dezenas de metros de distância, árvores arrancadas pela raiz e veículos viraram sucata em poucos segundos.
“Meu pai estava em casa quando tudo aconteceu. Foi questão de um minuto. A casa dele foi arremessada uns 30 metros. Parecia que uma bomba tinha caído”, relatou Antonio Gieteski, que perdeu o pai na tragédia.
Diante da destruição, o governo estadual anunciou um plano emergencial de reconstrução e assistência humanitária. O Fundo Estadual de Calamidade Pública (Fecap) destinará R$ 50 milhões para recuperar a cidade, com repasses diretos às famílias afetadas — até R$ 50 mil por residência. O projeto foi aprovado em regime de urgência pela Assembleia Legislativa do Paraná (Alep).
A Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar) coordena o plano, em parceria com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-PR), que faz o levantamento técnico dos danos. O trabalho ocorre simultaneamente em várias frentes: limpeza dos destroços, reabertura de vias, recuperação de infraestrutura e cadastramento das famílias desalojadas.
A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) informou que o abastecimento de água foi restabelecido parcialmente, com o apoio de caminhões-pipa e distribuição de 50 mil copos de água envasada. A Companhia Paranaense de Energia (Copel) comunicou que cerca de 49% da rede elétrica de Rio Bonito do Iguaçu já foi religada, priorizando escolas, postos de saúde e centros de atendimento da Defesa Civil. Mais de 200 técnicos e eletricistas permanecem no local.
Além da reconstrução material, o governo estadual também atua no amparo às vítimas. A Secretaria de Segurança Pública, junto ao Ministério Público, Defensoria Pública e Tribunal de Justiça, iniciou um mutirão para a emissão de documentos perdidos. O Ministério Público abriu atendimento descentralizado, enquanto psicólogos e assistentes sociais acompanham os desabrigados.
O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) autorizou a antecipação de benefícios assistenciais para os moradores atingidos. Escolas destruídas terão prioridade na reconstrução, e a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que ocorreria no domingo (9), foi adiada na cidade.
O prefeito de Rio Bonito do Iguaçu, Sezar Augusto Bovino, afirmou que a cidade “terá de ser reconstruída do zero”. Ele destacou o esforço conjunto de moradores, voluntários e servidores públicos no trabalho de limpeza e reconstrução. “Estamos recebendo ajuda de todos os lados, mas o cenário é desolador. Em um minuto, nossa cidade virou ruínas”, declarou.
Segundo o Simepar, as condições meteorológicas na sexta-feira — grande umidade, calor intenso e mudança brusca na direção dos ventos com a altitude — criaram um ambiente propício à formação de tempestades supercelulares. As análises foram realizadas com base em dados de radar, imagens de vídeo, sobrevoos e vistorias em solo.
O episódio reacende o debate sobre a intensificação de eventos extremos no Brasil. Meteorologistas e climatologistas alertam que, com o avanço das mudanças climáticas, fenômenos como esse podem se tornar mais frequentes e intensos.
Enquanto o Paraná tenta se reerguer, Rio Bonito do Iguaçu simboliza, agora, tanto a força devastadora da natureza quanto a resiliência humana diante da catástrofe. Entre escombros, destroços e dor, uma cidade inteira começa, lentamente, o processo de renascer.





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