Veja outras mulheres que foram exemplo na resistência à Ditadura Militar no Brasil



Ícone de crédito Mulheres se destacaram durante e após a ditadura, com a busca por mortos e desaparecidos. Foto: reprodução/APERS




Veja outras mulheres que foram exemplo na resistência à Ditadura Militar no Brasil





Ícone de crédito Mulheres se destacaram durante e após a ditadura, com a busca por mortos e desaparecidos. Foto: reprodução/APERS


Durante os 21 anos de ditadura militar no Brasil, as mulheres não apenas sofreram as mesmas perseguições, torturas e censuras impostas aos opositores do regime, mas também protagonizaram alguns dos episódios mais marcantes de resistência política e humana daquele período. Mesmo diante de uma sociedade profundamente patriarcal, elas ocuparam papéis centrais na luta contra a repressão, nos movimentos estudantis, sindicais, camponeses, culturais e, mais tarde, nas campanhas pela redemocratização.

A presença feminina na resistência começou ainda nos primeiros anos após o golpe de 1964. Enquanto muitos homens eram presos, exilados ou mortos, mulheres passaram a organizar redes clandestinas de apoio, abrigo e comunicação. Dona Ieda Santos Delgado, por exemplo, transformou sua casa no Rio de Janeiro em um refúgio para militantes perseguidos, salvando dezenas de vidas. Outras atuaram como mensageiras, repassando informações codificadas e materiais de imprensa alternativa sob o risco constante de prisão.

No campo político, nomes como Maria Auxiliadora Lara Barcelos, Iara Iavelberg e Dinaelza Coqueiro integraram organizações armadas de resistência, como a VAR-Palmares e a ALN. Maria Auxiliadora, conhecida como “Dôra”, foi uma das jovens presas e torturadas no DOI-CODI, símbolo da brutalidade do regime. Já Iara Iavelberg, militante e companheira de Carlos Lamarca, tornou-se um dos rostos mais emblemáticos da repressão: sua morte em 1971 foi pateticamente apresentada como suicídio, quando na realidade ela foi executada de forma sumária. As mulheres também estiveram presentes no campo: Elza Monnerat protagonizou, na Guerrilha do Araguaia, momentos cinematográficos, como o episódio em que salvou a vida de João Amazonas, então principal quadro do Partido Comunista do Brasil.

Ao mesmo tempo, em frentes não armadas, mulheres como Zuleika Alambert e Ruth Escobar atuaram na articulação política e cultural, denunciando violações de direitos humanos e abrindo espaços para o debate democrático. Nos movimentos estudantis, Ana Maria Nacinovic e Vera Sílvia Magalhães — esta última uma das líderes do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick em 1969 — simbolizaram a audácia e a inteligência da juventude em confronto direto com a repressão.

Nos anos 1970, com o enfraquecimento da luta armada, a resistência feminina se reorganizou em novos moldes. Surgiram os movimentos de mães e familiares de presos e desaparecidos políticos, que exigiam respostas sobre os mortos e desaparecidos. A figura de Therezinha Zerbini, fundadora do Movimento Feminino pela Anistia, foi decisiva para articular uma frente ampla de mulheres que, ao lado de artistas e intelectuais, pressionaram pela libertação de presos políticos e pelo retorno dos exilados.

Quando, na década de 1980, a abertura política começou a se consolidar, essas mesmas mulheres foram fundamentais na campanha “Diretas Já” e na construção das bases para a nova Constituição.

A luta feminina contra a ditadura militar ultrapassou o enfrentamento político: foi também uma batalha contra o machismo e pela afirmação de sua voz na história nacional. Hoje, ao recuperar suas trajetórias, o Brasil reconhece que a redemocratização não seria possível sem a coragem silenciosa e incansável de mulheres que ousaram desafiar o medo — e o poder — em nome da liberdade.


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