Pessoas entram e saem das nossas vidas o tempo todo — amores, amizades, colegas de trabalho. Algumas deixam marcas boas, outras apenas um vazio. E embora essa dança de chegadas e partidas pareça natural, há algo que sempre me inquieta: aquelas que, ao partir, dizem “agora sei quem você é”… e vão embora sem me contar quem sou.
As despedidas carregam, por si só, um peso singular. Mas essa frase, dita tantas vezes por pessoas que amei ou confiei, transforma o adeus em algo mais doloroso: um julgamento silencioso. Não é a ausência física que mais machuca — é o silêncio sobre o que foi supostamente descoberto.
Como podem ir embora levando uma verdade que dizem ter percebido em mim, enquanto eu sigo tentando entender a mim mesmo? Eu, protagonista da minha própria história, ainda caminho às cegas, tateando os contornos do meu ser. E eles, que afirmam ter me enxergado com clareza, somem sem deixar rastro — como quem leva um espelho e me priva da chance de me ver.
A crueldade está justamente nisso: não na descoberta, mas no segredo. Se sabiam quem eu sou, por que não disseram? Por que escolheram partir com essa certeza sem me dar a chance de dialogar com ela? É um abandono duplo — da presença e da possibilidade de autoconhecimento.
Talvez o erro esteja em esperar que o outro nos defina. A identidade é fluida, mutável, um rio em constante movimento. Ainda assim, quando tantos repetem a mesma sentença — “agora sei quem você é” —, não tem como não se perguntar: será que existe em mim algo evidente para os outros, mas invisível aos meus próprios olhos?
E, se sim, por que essa verdade me é negada?
A dor da ausência é real. Mas a dor do não saber — essa sim, é a mais profunda. Essa frase, solta no ar como um enigma não resolvido, se torna um eco que me persegue. Uma promessa de revelação jamais cumprida.
Resta-me a reflexão solitária. Sigo tentando decifrar os rastros deixados nas entrelinhas de cada adeus. Procuro pistas nas memórias, nos gestos, nas palavras ditas e nas que foram silenciadas. Sigo em busca de mim — ainda que os que foram embora tenham levado consigo a bússola.
Porque, no fim, talvez minha essência não precise ser confirmada por ninguém. Talvez, um dia, ela simplesmente floresça. E que eu, enfim, diga a mim mesmo: “Agora sei quem eu sou.”





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