O Brasil assumiu nesta quinta-feira (3) a presidência rotativa do Mercosul com uma agenda ambiciosa que busca reposicionar o bloco diante dos desafios econômicos, sociais e ambientais da atualidade. A cerimônia de transmissão de cargo foi realizada durante a 66ª Cúpula do Mercosul, em Buenos Aires, com a presença dos chefes de Estado de Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Bolívia e representantes de países associados. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o posto das mãos do presidente argentino, Javier Milei.
Durante o evento, Lula destacou a importância da integração regional diante de um cenário global instável. “Estar no Mercosul nos protege. Nossa Tarifa Externa Comum nos blinda contra guerras comerciais alheias. Nossa robustez institucional nos credencia perante o mundo como parceiros confiáveis”, afirmou.
Cinco prioridades para a presidência brasileira
A presidência brasileira definiu cinco eixos prioritários de atuação no Mercosul:
- Ampliação do comércio entre os países do bloco e com parceiros externos;
- Transição energética e sustentabilidade ambiental, com o lançamento do programa Mercosul Verde;
- Desenvolvimento tecnológico e soberania digital, com foco em inteligência artificial e saúde;
- Combate ao crime organizado transnacional, com ações coordenadas de segurança pública;
- Redução das desigualdades sociais, com mais participação popular nas decisões do bloco.
Acordos comerciais e infraestrutura regional
Entre os principais objetivos da nova presidência está a conclusão do acordo com a União Europeia, em negociação há mais de duas décadas. O Brasil também pretende avançar em tratativas com Canadá, Emirados Árabes Unidos, Panamá e República Dominicana, além de fortalecer a Tarifa Externa Comum (TEC) e relançar o Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (Focem), voltado a obras de infraestrutura e integração regional.
O governo brasileiro quer ainda incluir os setores automotivo e açucareiro nas regras comuns do bloco, o que pode beneficiar diretamente a economia do país e gerar maior competitividade.
Meio ambiente e transição energética
Com o avanço das mudanças climáticas, Lula anunciou o Mercosul Verde, uma proposta de agenda ambiental conjunta que contempla agricultura sustentável, rastreabilidade de produtos e inovação tecnológica. O presidente ressaltou a importância do bloco na exploração e uso estratégico de minerais essenciais à transição energética, como lítio, grafita e cobre.
“As consequências do aquecimento global já se fazem sentir no Cone Sul. A realidade está se movendo mais rápido que o Acordo de Paris, expondo a falácia do negacionismo climático”, declarou Lula.
Inovação, dados e saúde
O presidente também criticou a concentração global da produção tecnológica e defendeu o fortalecimento da soberania digital regional. Citou como exemplo a parceria com o Chile para desenvolver modelos de inteligência artificial com identidade latino-americana e propôs a criação de centros de dados na América do Sul.
Na área da saúde, Lula lembrou a fragilidade da região durante a pandemia da covid-19 e propôs investimentos coordenados em vacinas, medicamentos e inovação biomédica.
Segurança regional e crime organizado
Um dos pontos mais destacados do discurso brasileiro foi a necessidade de intensificar o combate ao crime organizado. Lula acenou favoravelmente à proposta da Argentina de criar uma agência regional contra o crime transnacional, ressaltando a importância de iniciativas já em curso, como o Comando Tripartite na Tríplice Fronteira e o novo Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, em Manaus.
“Não venceremos essas verdadeiras multinacionais do crime sem atuar de forma coordenada. Precisamos investir em inteligência, conter os fluxos de armas e asfixiar os recursos que financiam a indústria do crime”, afirmou.
Inclusão social e participação popular
A presidência brasileira também se comprometeu com o fortalecimento da participação popular no bloco. Para isso, pretende retomar a realização da Cúpula Social do Mercosul, realizar uma edição sindical e impulsionar os institutos voltados a políticas públicas e inclusão social.
“Sem inclusão social e enfrentamento das desigualdades de todo tipo, não haverá progresso duradouro”, concluiu o presidente Lula.
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