Tons de uma jornada: Carlos Zens, do menino de Santos Reis ao guardião da música potiguar



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Parabéns pela matéria aqui publicado sobre esse grande músico o Carlos Zens.



Foto: Canidé Soares Foto: Canidé Soares

No cenário musical do Rio Grande do Norte, um nome brilha com a luz da arte e do talento: Carlos Zens. Nascido em 1965 na Cidade do Sol, o menino que sonhava em ser, assim como o pai, cobrador de ônibus, viu sua vida seguir pelo caminho das notas musicais. Hoje, instrumentos como flauta, sax soprano, pífaro e flautim, ecoam ritmos diversos como o clássico, xaxado e ciranda, combinados com o som melodioso de sua voz.

De Carlos Alberto a Carlinhos Zens

Carlos Alberto de Freitas conheceu a música de perto ainda na infância, quando acompanhava sua mãe, uma empregada doméstica, até a casa onde ela trabalhava. Ao nos contar, os olhos de Carlinhos brilham novamente, como a criança que via de perto os saraus promovidos pela família da qual faz parte o cantor, compositor, arranjador e tecladista potiguar, Fernando Luna.

Depois, suas brincadeiras com os amigos mudaram e os shows de calouros entraram em ação: “Todos meus amigos de Santos Reis eram filhos de pescadores… Alguns faziam barcos e com a sobra de madeira a gente fazia instrumentos. A gente fazia violões, as cordas ou eram de náilon de pesca ou senão era de arame. Então a gente fazia umas brincadeiras assim de calouros, as meninas amigas da gente dançavam, era muito bacana”, relembra com nostalgia. 

Aos 15 anos, quando saiu de Santos Reis, Carlos conheceu os meninos da batucada, como ele conta, e começou a fazer a percussão. “Quando me mudei pras Rocas, lá tinha umas batucadas e eu acompanhava os meninos que faziam os ritmos, e assim eu comecei.”

Logo, por sugestão da mãe de Fernando Luna, Carlinhos foi em busca de uma bolsa de estudos. Assim, iniciou sua jornada musical nos corredores e salas da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Com mais este passo em sua trajetória, mal sabia o que o futuro lhe reservava.

O artista ingressou no curso pensando em ser percussionista ou baterista, mas quis o destino que, entre os professores, não houvesse um de percussão e as vagas para bateria já estivessem todas preenchidas. Dentre as opções disponíveis, Carlos escolheu o Oboé, mesmo sem nunca ter ouvido falar do instrumento. “Comecei com a flauta só três meses depois”, conta ele.

Agora era a hora de mostrar seu talento a mais pessoas e os festivais entraram na vida de Carlinhos.  “Comecei a participar dos festivais de música da Universidade, o primeiro foi em Mossoró, na Escola Agrícola. Queria seguir um caminho. Eu cresci no meio de músicos como Pedro Mendes, Sueldo Soares, Leandro Freire, todos esses que tão ai na cena, né?” comenta com orgulho.

O tempo e o reconhecimento do público, transformaram o menino Carlos Alberto em Carlos Zens, Carlinhos para os potiguares. Antes do Zens, o tímido flautista, recebeu outros nomes, como Carlinhos Freitas, Carlinhos Bico de Ouro, Carlinhos da Flauta, Carlinhos de Natal, Carlinhos Bico Doce, como nos conta o entrevistado.

“Me deram muitos apelidos, mas eu que sempre busquei uma paz espiritual para minha vida, tive a inspiração de criar um nome diferente desses que haviam colocado em mim. Quando li o livro Arte cavalheiresca do arqueiro Zen, de Eugen Herrigel e ouvindo a música do Caetano Veloso, Meu bem, meu mau. Nasceu Carlos Zens.”

Das Rocas à Potyguara

O tempo passa rápido e logo sua maestria na flauta transcende fronteiras e ecoa tanto os sons clássicos quanto os ritmos regionais pelas ruas de Natal. Aos 18 anos, Carlos já se unia à Banda Sinfônica da capital potiguar, pavimentando o caminho para uma carreira que se revelaria excepcionalmente fecunda.

O ano de 1986, marcou significativamente Zens, quando caiu em definitivo nas graças do povo, realizando seu primeiro recital de flauta e piano, iniciando formalmente sua jornada artística. Neste mesmo ano foi de mala e cuia para São Paulo, onde ganhou uma bolsa de estudos na UNESP.

Em 1995, já de volta a Natal, se inspirou para compor e neste momento, a mescla de sua voz e  flauta se fundiram em perfeita harmonia, ao alcance da mão: seu primeiro CD de músicas autorais, Potyguara, foi lançado.

Este trabalho não apenas marcou a estreia fonográfica de Carlos, mas também abriu portas para performances ao lado de lendas da música brasileira, como Roberto Menescal, Nelson Sargento e Hermeto Pascoal. O lançamento de Potyguara também abriu portas para Carlinhos participar de programas de TV, como o Viola, Minha Viola, apresentado por Inezita Barroso, e o Metrópolis, na TV Cultura. 

Em 2001 lançou seu segundo disco, O Tocador de Flauta, com um repertório banhado da rica mistura das músicas popular e erudita e de lá para cá, são quase dez álbuns.

Do sonho à promissória

Do menino que brincava em Santos Reis e nas Rocas até o Carlinhos Zens, um dos dos mais notáveis flautistas, cantores, compositores e arranjadores potiguares, há uma longa história de perseverança e luta.

Adquirir uma flauta, o instrumento que sua grande paixão, não era algo fácil. “Naquela época os instrumentos eram ainda mais caros, pois vinham do exterior. Muitas vezes eu usei uma flauta da faculdade, emprestada pelo meu professor de música… Mas isso era um grande segredo, ninguém poderia saber, era arriscado meu professor receber alguma advertência.”

Quando começou a tocar na noite, seu principal objetivo era ter sua flauta. “Juntei todo dinheiro que pude para dar de entrada e o 29 de agosto de 1984 é com o nascimento de um sonho pra mim.”

Foi neste dia que Carlinhos adquiriu sua primeira flauta. “A mãe de uma amiga minha da escola de música tava vendendo uma flauta e eu ia comprar. Aí, quando cheguei, ela disse que a flauta era minha, ela me deu! Mas mesmo assim eu quis comprar, foi a prestação. Lembro de mamãe assinando cada promissória”, comenta.

De Natal para o mundo

Relembrando o período que começou a ter contato com a música, Zens não imaginava, embora sonhasse, que ela o levaria a momentos grandiosos em festivais, projetos e apresentações pelos quatro cantos do mundo.

Em 1997 fez apresentações por todo o Centro Oeste e Norte do país. Já em 2005, foi a hora de passar pelo Sul e Sudeste. O público da Itália, França, Portugal e Havana também viu e ouviu este talento de perto.

Premiadíssimo, Carlos recebeu o Gão de Música, em São Paulo, o Hangar, de melhor instrumentista por dois anos, e melhor projeto de cultura de rua, o Choro do Caçuá. Também desenvolveu projetos sociais como o Conexão Felipe Camarão e o Nosso Som nas Escolas, tendo sido indicado a uma cadeira no Instituto Histórico Geográfico. Multitarefas e multitalentos, ele ainda atua como professor de flauta e pífano, ministra palestras, oficinas e workshops em diversas instituições de ensino.

Apesar de toda sua trajetória, Carlos às vezes custa acreditar que é famoso e fala surpreso sobre uma descoberta recente. “Disseram que fizeram uma pesquisa procurando saber quem eram os músicos bem conceituados… Até no estado e meu nome saiu! Pois eu não sabia disso, não. Eu achei ótimo, né? Eu não sou nem o Zezo e nem o Grafith, mas sou conhecido, do meu jeito vou fazendo.” brinca Zens. 

Dos festivais para o futuro

Com uma rica discografia, Carlinhos conta com quase uma dezena de álbuns solo. Zens não apenas entrelaça os fios da música clássica e popular, mas também se torna um pilar na cena musical nordestina. 

Além de sua contribuição musical, Carlos é também um verdadeiro filho do Rio Grande do Norte, enraizado nas ruas Santos Reis e Rocas. Sua música ecoa a alma da cidade, misturando-se às histórias e tradições que permeiam cada canto do estado.

Agora, aos 59 anos, Carlos agora vai tentar mestrado em música, o sonho que por muitas vezes pareceu distante, agora está prestes a se tornar realidade. Com uma vasta bagagem e o último álbum lançado em 2014, Carlinhos trabalha em um novo CD. 

Entre os muitos sonhos que ainda guarda em seu coração, fazer uma excursão para São Paulo é um deles, além de turnês internacionais. “Tô empolgado pra caramba, eu tenho sonhos de fazer mais programas nacionais, festivais. Hoje meus projetos são esses e tô cheio de vida”, conclui.

De menino a guardião

Carlos Zens é mais do que um músico, é um guardião da cultura potiguar, cuja arte transcende fronteiras e ecoa nos corações daqueles que têm a sorte de ouvir sua música. Ele personifica o melhor da música potiguar e inspira gerações com sua virtuosidade, paixão e compromisso com a excelência artística. 

Que seu legado continue a ressoar, celebrando a riqueza e diversidade da música do Rio Grande do Norte.




O Potengi

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Tons de uma jornada: Carlos Zens, do menino de Santos Reis ao guardião da música potiguar



Foto: Canidé Soares Foto: Canidé Soares




No cenário musical do Rio Grande do Norte, um nome brilha com a luz da arte e do talento: Carlos Zens. Nascido em 1965 na Cidade do Sol, o menino que sonhava em ser, assim como o pai, cobrador de ônibus, viu sua vida seguir pelo caminho das notas musicais. Hoje, instrumentos como flauta, sax soprano, pífaro e flautim, ecoam ritmos diversos como o clássico, xaxado e ciranda, combinados com o som melodioso de sua voz.

De Carlos Alberto a Carlinhos Zens

Carlos Alberto de Freitas conheceu a música de perto ainda na infância, quando acompanhava sua mãe, uma empregada doméstica, até a casa onde ela trabalhava. Ao nos contar, os olhos de Carlinhos brilham novamente, como a criança que via de perto os saraus promovidos pela família da qual faz parte o cantor, compositor, arranjador e tecladista potiguar, Fernando Luna.

Depois, suas brincadeiras com os amigos mudaram e os shows de calouros entraram em ação: “Todos meus amigos de Santos Reis eram filhos de pescadores… Alguns faziam barcos e com a sobra de madeira a gente fazia instrumentos. A gente fazia violões, as cordas ou eram de náilon de pesca ou senão era de arame. Então a gente fazia umas brincadeiras assim de calouros, as meninas amigas da gente dançavam, era muito bacana”, relembra com nostalgia. 

Aos 15 anos, quando saiu de Santos Reis, Carlos conheceu os meninos da batucada, como ele conta, e começou a fazer a percussão. “Quando me mudei pras Rocas, lá tinha umas batucadas e eu acompanhava os meninos que faziam os ritmos, e assim eu comecei.”

Logo, por sugestão da mãe de Fernando Luna, Carlinhos foi em busca de uma bolsa de estudos. Assim, iniciou sua jornada musical nos corredores e salas da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Com mais este passo em sua trajetória, mal sabia o que o futuro lhe reservava.

O artista ingressou no curso pensando em ser percussionista ou baterista, mas quis o destino que, entre os professores, não houvesse um de percussão e as vagas para bateria já estivessem todas preenchidas. Dentre as opções disponíveis, Carlos escolheu o Oboé, mesmo sem nunca ter ouvido falar do instrumento. “Comecei com a flauta só três meses depois”, conta ele.

Agora era a hora de mostrar seu talento a mais pessoas e os festivais entraram na vida de Carlinhos.  “Comecei a participar dos festivais de música da Universidade, o primeiro foi em Mossoró, na Escola Agrícola. Queria seguir um caminho. Eu cresci no meio de músicos como Pedro Mendes, Sueldo Soares, Leandro Freire, todos esses que tão ai na cena, né?” comenta com orgulho.

O tempo e o reconhecimento do público, transformaram o menino Carlos Alberto em Carlos Zens, Carlinhos para os potiguares. Antes do Zens, o tímido flautista, recebeu outros nomes, como Carlinhos Freitas, Carlinhos Bico de Ouro, Carlinhos da Flauta, Carlinhos de Natal, Carlinhos Bico Doce, como nos conta o entrevistado.

“Me deram muitos apelidos, mas eu que sempre busquei uma paz espiritual para minha vida, tive a inspiração de criar um nome diferente desses que haviam colocado em mim. Quando li o livro Arte cavalheiresca do arqueiro Zen, de Eugen Herrigel e ouvindo a música do Caetano Veloso, Meu bem, meu mau. Nasceu Carlos Zens.”

Das Rocas à Potyguara

O tempo passa rápido e logo sua maestria na flauta transcende fronteiras e ecoa tanto os sons clássicos quanto os ritmos regionais pelas ruas de Natal. Aos 18 anos, Carlos já se unia à Banda Sinfônica da capital potiguar, pavimentando o caminho para uma carreira que se revelaria excepcionalmente fecunda.

O ano de 1986, marcou significativamente Zens, quando caiu em definitivo nas graças do povo, realizando seu primeiro recital de flauta e piano, iniciando formalmente sua jornada artística. Neste mesmo ano foi de mala e cuia para São Paulo, onde ganhou uma bolsa de estudos na UNESP.

Em 1995, já de volta a Natal, se inspirou para compor e neste momento, a mescla de sua voz e  flauta se fundiram em perfeita harmonia, ao alcance da mão: seu primeiro CD de músicas autorais, Potyguara, foi lançado.

Este trabalho não apenas marcou a estreia fonográfica de Carlos, mas também abriu portas para performances ao lado de lendas da música brasileira, como Roberto Menescal, Nelson Sargento e Hermeto Pascoal. O lançamento de Potyguara também abriu portas para Carlinhos participar de programas de TV, como o Viola, Minha Viola, apresentado por Inezita Barroso, e o Metrópolis, na TV Cultura. 

Em 2001 lançou seu segundo disco, O Tocador de Flauta, com um repertório banhado da rica mistura das músicas popular e erudita e de lá para cá, são quase dez álbuns.

Do sonho à promissória

Do menino que brincava em Santos Reis e nas Rocas até o Carlinhos Zens, um dos dos mais notáveis flautistas, cantores, compositores e arranjadores potiguares, há uma longa história de perseverança e luta.

Adquirir uma flauta, o instrumento que sua grande paixão, não era algo fácil. “Naquela época os instrumentos eram ainda mais caros, pois vinham do exterior. Muitas vezes eu usei uma flauta da faculdade, emprestada pelo meu professor de música… Mas isso era um grande segredo, ninguém poderia saber, era arriscado meu professor receber alguma advertência.”

Quando começou a tocar na noite, seu principal objetivo era ter sua flauta. “Juntei todo dinheiro que pude para dar de entrada e o 29 de agosto de 1984 é com o nascimento de um sonho pra mim.”

Foi neste dia que Carlinhos adquiriu sua primeira flauta. “A mãe de uma amiga minha da escola de música tava vendendo uma flauta e eu ia comprar. Aí, quando cheguei, ela disse que a flauta era minha, ela me deu! Mas mesmo assim eu quis comprar, foi a prestação. Lembro de mamãe assinando cada promissória”, comenta.

De Natal para o mundo

Relembrando o período que começou a ter contato com a música, Zens não imaginava, embora sonhasse, que ela o levaria a momentos grandiosos em festivais, projetos e apresentações pelos quatro cantos do mundo.

Em 1997 fez apresentações por todo o Centro Oeste e Norte do país. Já em 2005, foi a hora de passar pelo Sul e Sudeste. O público da Itália, França, Portugal e Havana também viu e ouviu este talento de perto.

Premiadíssimo, Carlos recebeu o Gão de Música, em São Paulo, o Hangar, de melhor instrumentista por dois anos, e melhor projeto de cultura de rua, o Choro do Caçuá. Também desenvolveu projetos sociais como o Conexão Felipe Camarão e o Nosso Som nas Escolas, tendo sido indicado a uma cadeira no Instituto Histórico Geográfico. Multitarefas e multitalentos, ele ainda atua como professor de flauta e pífano, ministra palestras, oficinas e workshops em diversas instituições de ensino.

Apesar de toda sua trajetória, Carlos às vezes custa acreditar que é famoso e fala surpreso sobre uma descoberta recente. “Disseram que fizeram uma pesquisa procurando saber quem eram os músicos bem conceituados… Até no estado e meu nome saiu! Pois eu não sabia disso, não. Eu achei ótimo, né? Eu não sou nem o Zezo e nem o Grafith, mas sou conhecido, do meu jeito vou fazendo.” brinca Zens. 

Dos festivais para o futuro

Com uma rica discografia, Carlinhos conta com quase uma dezena de álbuns solo. Zens não apenas entrelaça os fios da música clássica e popular, mas também se torna um pilar na cena musical nordestina. 

Além de sua contribuição musical, Carlos é também um verdadeiro filho do Rio Grande do Norte, enraizado nas ruas Santos Reis e Rocas. Sua música ecoa a alma da cidade, misturando-se às histórias e tradições que permeiam cada canto do estado.

Agora, aos 59 anos, Carlos agora vai tentar mestrado em música, o sonho que por muitas vezes pareceu distante, agora está prestes a se tornar realidade. Com uma vasta bagagem e o último álbum lançado em 2014, Carlinhos trabalha em um novo CD. 

Entre os muitos sonhos que ainda guarda em seu coração, fazer uma excursão para São Paulo é um deles, além de turnês internacionais. “Tô empolgado pra caramba, eu tenho sonhos de fazer mais programas nacionais, festivais. Hoje meus projetos são esses e tô cheio de vida”, conclui.

De menino a guardião

Carlos Zens é mais do que um músico, é um guardião da cultura potiguar, cuja arte transcende fronteiras e ecoa nos corações daqueles que têm a sorte de ouvir sua música. Ele personifica o melhor da música potiguar e inspira gerações com sua virtuosidade, paixão e compromisso com a excelência artística. 

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